Crônicas

domingo, 7 de junho de 2015

INSPIRAÇÃO BÍBLICA (dados breves)

Prof Eduardo Simões

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        Ave!
        Definição: “é um carisma sobrenatural, dado por Deus a certos homens no seio do povo de Deus, para consignar por escrito, com validade geral e pública, os mistérios de Deus e de sua intervenção na história da Salvação humana, que Deus quis que fossem dessa maneira [escritos] entregues à Igreja, para o nosso bem e para a nossa salvação” (retirado de mercaba.org, o mais completo site católico da web, todo em espanhol: é imperdível!).
        Os elementos dessa inspiração são os seguintes:
        a) Não supõe a autoria literária original, ou seja, o conhecimento exato do agente humano responsável pela inscrição do texto, nem os seus méritos pessoais. Isso é irrelevante, uma vez que o autor mesmo, isso nos diz a fé e o magistério infalível da Igreja, é Deus; desse modo nada se perde do ensinamento contido, por exemplo, na epístola aos hebreus, embora a sua autoria não seja reconhecida unanimemente – a tradição nos diz que é obra de Paulo e contada entre estas, mas quase tudo nela, como o seu estilo literário, os seus conceitos, a sua forma de argumentar, não se parecem em nada com o estilo de Paulo, nas outras cartas. Muito mais controvertidos são os cinco livros do Pentateuco, cujos dados do texto nos revelam a impossibilidade de ter sido escrita por um só homem, e menos ainda Moisés – que pode até ser o autor de alguns trechos – como diz a tradição, sem que isso lhes cause qualquer demérito quanto a sua inspiração.
        b) É divina, condição indispensável para constar do cânon.
        c) A Inspiração Bíblica, como um carisma sobrenatural e divino, induz ao hagiógrafo – o autor humano do texto – “para que ponha por escrito, sem erro, o que
Deus quer revelar e comunicar aos homens” (idem). Daqui surge uma questão: o conteúdo da revelação é isento de erros, mas não o autor humano, o hagiógrafo, que pode ser um pecador, assim como a sua forma específica de relatar os dados da Inspiração, além das limitações da língua corrente, do entendimento dos leitores, inclusive dos especialistas, como os escribas, os revisores nas editoras, etc., encarregados de reproduzir novas edições do que foi escrito, e que podem adicionar coisas que podem, num extremo causar alguma distorção [a responsabilidade de manter íntegro o texto bíblico, para o seu próprio bem, não é nem de Deus nem dos anjos, mas dos homens]. Deus, decerto que ilumina tanto o hagiógrafo, como as pessoas de boa fé que se aproximam do texto para que entendam perfeitamente o sentido daquilo que foi escrito e lido, que é o que importa, para aqueles que não tratam a Bíblia como a um ídolo. Aliás, se o texto bíblico fosse sempre perfeitamente escrito e transmitido, e perfeitamente entendido, não haveria necessidade de profetas, sequer de Jesus Cristo.
        d) “O carisma da Inspiração é gratuito, sobrenatural e transitório” (idem). Ele, o carisma, só aparece na revelação daquele mistério que Deus quer tornar conhecido, fora disso o hagiógrafo leva sua existência comum, e por vezes até não muito santa, como no caso de Davi, que depois de um pecado horrível compôs um dos mais belos salmos da Bíblia (Miserere).
        e) O carisma dá luz ao hagiógrafo para que entenda perfeitamente aquilo que lhe é revelado, e possa discernir com certeza que aquilo que se lhe “aparece” é coisa de Deus – não sabemos exatamente como isso acontece, é possível que essa certeza de inspiração ocorra em pessoas diferentes de forma diferente, por isso é tão importante manter-se junto ao Magistério e à comunidade eclesial, que são âncoras firmes, capazes de dar um veredito seguro sobre a natureza da inspiração, evitando as armadilhas de sentimentos e sensações confusas, que arrastaram a muitos para longe do verdadeiro caminho.
        f) “É um dom outorgado por Deus, não para a santificação de quem o recebe
(uma graça santificante), mas para o bem da Igreja (graça grátis dada)” (idem).
        g) Sob o efeito da inspiração o hagiógrafo escreve somente aquilo que Deus quer, e nada mais.
        h) A Veracidade dos escritos bíblicos é, para o católico, tanto óbvia como dogmática e decorre das seguintes circunstâncias:
        h.1. “Ela está ligada com o fim mesmo da Inspiração [ou seja, revelar a Verdade Suprema, que é Deus]” (idem).
        h.2. Ela está necessariamente ligada à perfeição de Deus        .
        h.3. “Ela se estende a todo conteúdo da Bíblia” (idem).
        h.4. “É uma verdade absoluta, que contém tanto verdades de ordem metafísica [quando se refere a realidades espirituais], como acontecimentos, promessas, e exigências ético-morais” (idem).

        São Tomás de Aquino, em sua Summa Teológica, trata dessa questão da seguinte maneira: “a causa agente pode ser dupla: principal (ou aquela que obra por sua própria virtude [no caso, Deus]) e instrumental (ou aquela que obra em virtude da moção prévia que recebe de um agente principal [no caso, Deus] e é também aplicada à ação [nesse caso, o hagiógrafo, que é um “instrumento” de Deus]). Dessa forma, o instrumento, recebe uma capacidade mais elevada, que ultrapassa a capacidade que lhe é própria, para além de sua natureza. O efeito obtido é tanto de um [de Deus] como do outro [do hagiógrafo], embora de maneira distinta... os hagiógrafos são instrumentos vivos, livres e racionais movidos por Deus para a redação dos Livros Sagrados. Essa ação de Deus sobre o hagiógrafo, se observa como uma ação ad extra [externa] de Deus (inspiração ativa), atribuída de modo especial ao Espírito Santo; que é recebida livre e voluntariamente pelo hagiógrafo (inspiração passiva), e que se acha inscrita nos Livros Sagrados (inspiração terminativa)” (idem)
         Amém