Crônicas

sexta-feira, 20 de março de 2015

ANTIGO X PRIMEIRO TESTAMENTO

Prof. Eduardo Simões


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         Ave!
         A vitória esmagadora do cristianismo sobre o judaísmo, no final do Império Romano, deu ensejo a que os cristãos, arrogando o fato de a Igreja ser o “verdadeiro Israel”, o “Israel espiritual”, em oposição e situação de superioridade em relação ao “Israel na carne”, representado pelos judeus, tornando-se assim o único Israel crível e digno de seguimento, o que justificaria perseguições futuras, além de outros constrangimentos, entre os quais se incluiu o de ter a sua tradição diminuída, no livro que eles ajudaram a escrever: a Bíblia, onde a sua parte foi nomeada como Antigo Testamento.
         O termo “Antigo”, longe de ter uma conotação honrosa, de algo provecto, mais experiente, etc., teve, nesse caso, a conotação pejorativa de coisa “velha”, ultrapassada. E assim se consagrou o seu uso na cultura Ocidental.
         Com as mudanças empreendidas pelo Santo Padre João XXIII e o concílio Vaticano II, quando foram afastadas todas as expressões ofensivas aos judeus que, injustificadamente, ainda permaneciam nos textos litúrgicos, abrindo-se uma larga para um frutuoso diálogo entre as duas religiões, cujas vantagens infelizmente não foram percebidas por muitos, que preferiram alimentar antigos receios e inseguranças pessoais, julgando que o diálogo levaria fatalmene a abjuração do católico de sua religião.
         A esse respeito é bom lembrar que ninguém está obrigado a aproximar-se quem quer que seja, professe a mesma religião ou não. Essa nova postura visava mais o diálogo entre autoridades e estudiosos das várias religiões, assim como tranquilizar os pudores de quem pudesse, por ventura, se sentir contaminado por uma simples aproximação ou cumprimento com alguém de outra religião, principalmente da parte dos católicos, o que seria um absurdo.
         Sobre isso, convém lembrar duas passagens: “Nisto consiste a perfeição do amor em nós: que tenhamos plena confiança... não há temor no amor; ao contrário: o perfeito amor lança fora o temor... o que teme não chegou à perfeição do amor” (1 Jo 4,17-18) e toda a belíssima parábola do Bom Samaritano (Lc 10, 30-37) –  já imaginaram se o samaritano, por receio de se contaminar, não tivesse ajudado ao judeu ferido, ou se este recusasse a ajuda daquele, dizendo-lhe: “obrigado, mas eu prefiro esperar até que passe um judeu que queira me ajudar”? Jamais teríamos uma das mais belas passagens da literatura mundial.
         Por que razão, ainda, essas pessoas pensam apenas na conquista do católico para a outra religião e nunca vice-versa? Será que o Espírito Santo só se manifesta nas outras religiões, supondo que toda conversão é sincera? Não será essa atitude uma recusa para cumprir a missão de Mt 28,19? “O risco que corre o pau corre o machado”, diz um ditado da minha terra; afastemos, pois, falsos temores e tenhamos fé naquele que nos chamou à fé, sem arrogância ou riscos desnecessários.
         Não há, pois, razão, para evitarmos contato com pessoas de outras religiões, em situações do cotidiano, nem precisarmos ficar correndo atrás delas ou frequentarmos os seus cultos religiosos, só para mostrar aos outros o quanto somos ecumênicos. Isso seria uma idolatria de si mesmo!
         Na linha do diálogo institucional e acadêmico, surgiram estudiosos propondo uma mudança no título dos dois conjuntos de livros sagrados, que compõem a Bíblia, trocando os tradicionais Antigo e Novo Testamentos para Primeiro e Segundo Testamentos. Algumas vozes, inclusive muito respeitáveis, logo se levantaram para acusar os defensores dessa proposta de relativizar a importância ou a superioridade do cristianismo em relação ao judaísmo, e levar as pessoas a uma indiferença religiosa, como se tanto fizesse ser cristão ou judeu. A esse respeito nós poderíamos dizer:
         a) A mensagem cristã, e mesmo a judaica, se considerarmos o decálogo a essência do mosaísmo, é muito mais ampla que a defesa intransigente de instituições religiosas, pelos menos foi essa a mensagem que Jesus deixou frente a um defensor intransigente do judaísmo burocrático de seu tempo (Mt 22, 34-40).
         b) A melhor defesa de uma instituição cristã é a vivência sincera e profética do modelo que nos foi deixado por Jesus Cristo, conduzidos pelo Espírito Santo. Deus fará o resto, nos dirigindo para a sua Igreja, a Católica, é claro, seja nesse mundo seja no outro.
         c) O Fato de se dizer Primeiro e Segundo, ao invés de Antigo e Novo Testamentos, não muda a essência da nossa percepção qualitativa quanto ao aprimoramento histórico da Revelação, contido nos livros da Bíblia, uma vez que, juridicamente, o último testamento vale mais que o primeiro, para se dirimir uma contenda na justiça, mas certamente que essa terminologia é mais respeitosa. Isso não é bom?
         d) Não se trata, com essa mudança terminológica, de alterar qualquer coisa nos dogmas ou ensinamentos centrais da Igreja Católica, sequer nos secundários. Não se pretende com isso negar a canonicidade, por exemplo, dos livros deuterocanônicos, como fazem os judeus, por exemplo, mas nomear os conjuntos de livros sagrados dos cristãos de outra maneira, de sorte que não fira a susceptibilidade de pessoas que compartilham, parcialmente, conosco, esse maravilhoso patrimônio de fé e da história humana.
         Quem sou eu para contestar vozes tão respeitáveis, e mais ainda contestar o capítulo 13 de 1 Coríntios, e muito mais ainda as palavras de Jesus, que ordenaram cuidarmos do próximo como de nós mesmos (Mt 7,12). Por acaso os católicos gostam quando os chamam de “papistas”, como se colocassemos o Papa acima de Jesus, ou quando deturpam a nossa doutrina? Decerto que não, assim como não é correto chamar os islâmicos de maometanos, como se o seu seguimento principal fosse à pessoa de Maomé. Se eu ignorasse isso estaria me comportando como criança (1 Cor 13,11).
         Isso posto, deixo claro, aqui, que nos meus próximos artigos usarei sempre os termos Primeiro Testamento e Segundo Testamento, me referindo respectivamente ao Antigo e ao Novo Testamento, como parte de minha compreensão pessoal sobre esse assunto, sem querer impô-lo a ninguém, sugerir uma prática sequer fazer escola ou iniciar uma moda.
         Que cada um siga àquilo que o Espírito lhe move, deixando de lado receios pueris, mas sem fazer violência à sua natureza, como que para ficar mais concorde com a última “tendência”, pois até a nossa ignorância e a nossa fraqueza precisam ser respeitadas também, até que Deus, com o nosso consentimento, delas nos liberte, por meio de sua graça.

         Amém!

quarta-feira, 18 de março de 2015

CÂNON BÍBLICO III

Prof Eduardo Simões


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         Durante o seu discurso na Última Ceia Jesus disse: “o Paráclito... que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos disse” (Jo 14,26) assim como: “quando vier o Espírito da Verdade, ele vos guiará na verdade plena” (Jo 16,13) – sem falar que João também lembra que nem tudo que Jesus disse ou fez ficou registrado por escrito (20,30) – deixando bem claro que ainda havia coisas novas a serem ensinadas, que a presença histórica de Cristo não esgotava todos os detalhes da revelação de Deus na história dos homens. Para evitar que o diabo, “mentiroso e pai da mentira” (Jo 8,44), se intrometesse entre Deus e o fiel isolado, deturpando tudo, Jesus prescreveu a mediação necessária da Igreja Católica, a única no Ocidente a manter a sucessão apostólica, dizendo: “quem vos ouve a mim ouve, e quem vos despreza a mim despreza” (Lc 10,16).

O Desafio Protestante

         Em 1517, por conta de um contexto complexo de mudanças, incompreensões mútuas e interesses diversos, tem início a chamada Reforma Protestante, ou simplesmente Reforma.
         O objetivo original de Lutero era, ao que parece, provocar uma mudança postiva dentro da Igreja, embora o seu voluntarismo, típico dos intelectuais de sua época, não tenha prestado muita atenção aos inúmeros e difusos interesses, nada espirituais, que logo envolveram as suas iniciativas. A Cúria romana, por sua vez, “deitada em berço esplêndido”, foi incapaz de perceber, no início, a gravidade e a extensão do movimento, não tomando, talvez, as medidas mais adequadas. Um pouco mais de diálogo e convivência tolerante teria mudado o rumo da história, sem falar de medidas preventivas, tomadas muito antes, para evitar que as coisas chegassem àquele ponto?
         Seja como for, em pouco tempo o movimento já saíra de controle, e já não se tratava mais de reformar a Igreja, mas de criar outra igreja e justificar a divisão definitiva do cristianismo ocidental. Agora, qualquer coisa que pudesse destacar as diferenças entre as igrejas, e evitar confusões, era bem vinda. Sem querer dizer que esse foi o motor principal de suas ações, o certo e que os protestantes optaram por seguir estritamente o cânon judeu, recusando os chamados livros deuterocanônicos.
         A verdade é que católicos e protestantes, nesse assunto, lutavam como que nas sombras, pois a destruição que os romanos fizeram na Palestina, durante as evoltas de 66-77 e 133-135 foi de tal monta que quase nada sobrou da antiga cultura hebraica – para se ter uma ideia, até pouco tempo atrás, os documentos mais antigos do Primeiro Testamento, disponíveis, haviam sido encontrados no Cairo, Egito, por volta de 1900, datados do séculos IX e X, quase mil anos após a destruição de Jerusalém. Tal atitude dos romanos só encontra paralelo na destruição de Cartago.
         Lutero e os católicos de seu tempo, não tinham sequer essa decoberta com que agarrar, para dar base aos seus argumentos quanto ao cânon bíblico. O desconhecimento objetivo da realidade palestina no tempo de Jesus era completo. Nesse transe, os protestantes agiram movidos por uma lógica puramente humana: quem pode entender mais sobre o cânon do Primeiro Testamento, que aqueles que os escreveram e divulgaram: os judeus? E seguiram sem restrições o cânon menor dos judeus, excluindo os deuterocanônicos, no que foram seguidos pelos atuais evangélicos.
         Para reforçar ainda mais a defesa de suas teses, e para mais se distanciar da Igreja de Roma, Lutero tentou, inclusive, avançar em alguns livros do Segundo Testamento, tentando excluir da Bíblia protestante a Epistola de Tiago, Hebreus, Judas e o Apocalipse, sendo demovido desse intento por outras lideranças protestantes. Os judeus não estavam mais tão sozinhos em seu intento de pregar a superioridade de seu cânon bíblico sobre o dos cristãos, pois uma boa parcela destes agora assumia a sua tese.
         A Igreja Católica reagiu no Concílio de Trento, em 1546, reafirmando solenemente a canonicidade dos deuterocanônicos – não é verdade, porém, o que alguns dizem, de que a Igreja Católica só afirmou a canonicidade dos deuterocanônicos em Trento; o que a Igreja fez foi reforçar, afirmar com solenidade, aquilo que a tradição católica declarava desde o tempo dos apóstolos: que os livros deuterocanônicos eram inspirados, e que deviam fazer parte da Bíblia, com igual valor que os outros. Mas o “mal” já estava feito, e até hoje é notável como os escritores católicos relutam em citar passagens desses livros.
         Em 1720, no seu intento de enquadrar a Igreja Ortodoxa na Rússia, o tzar Pedro o Grande, com a ajuda de um bispo nomeado por ele, Theofane Prokopovich, começou por tornar a igreja russa independente da grega, não mais dirigida por um patriarca, como o são as igrejas ortodoxas, mas por um colegiado, o Santo-Sínodo, seguindo o modelo protestante, completamente submisso ao estado. A Igreja russa se torna uma mera repartição pública, e de quebra assume, em um sínodo interno, a tese protestante da exclusão dos deuterocanônicos, transformada em um dogma.
         Nessa luta, atacada duramente por filósofos iluministas franceses, e outros ideólogos burgueses, contando apenas com o apoio da massacrada Igreja Ortodoxa Grega, com seus patriarcados instalados em países dominados por povos muçulmanos, assistindo à expansão econômica e cultural dos países protestantes ao redor do mundo, quando do Imperialismo nos séculos XIX e XX, manteve-se a Igreja Católica fiel à sua crença original na canonicidade dos deuterocanônicos, até que uma reviravolta espetacular aconteceu, bem na metade do século passado.

A Reviravolta de Qumran

         Em 1947, um pobre pastor de ovelhas muçulmano, tangia seus rebanhos nas encostas próximas ao Mar Morto, quando deu, por acaso, com uma gruta, onde encontrou objetos estranhos: várias bilhas enormes de argila, contendo escritos muito antigos. Esses objetos, levados a especialistas, revelaram ser uma descoberta espetacular: eram extos de livros sagrados judaicos quase completos, além de regras de convivência de uma comunidade religiosa judia, todos datados do tempo de Jesus Cristos!
         Aquilo era uma REVOLUÇÃO, em termos bíblicos, pois antecipavam em mil anos os textos mais antigos que se conhecia sobre a Bíblia hebraica – o que até então gerara muita especulação, e acusações de que os textos bíblicos que nós líamos eram na verdade totalmente, ou muito, diferentes daqueles que os antigos judeus liam, que muita coisa havia sido inserida neles para justificar a fé de cristãos e judeus. O que se achou neles, porém, foi incrível em vários sentidos, pois confirmaram que os textos das Bíblias atuais são idênticos aos que eram lidos nos tempos de Jesus.
         A maior surpresa, porém, veio quando se achou, misturados entre os escritos considerados sagrados pelos judeus, trechos do Primeiro Testamento na tradução dos Setenta, e, inclusive, trechos de livros deuterocanõnicos como Tobias e Eclesiástico. Ora, aqueles escritos faziam parte da biblioteca de uma comunidade de piedosos judeus, os essênios, que eram tão rigoristas, que julgavam os sacerdotes de Jerusalém excessivamente mundanos e pouco fieis às legítimas tradições judaicas, o que imediatamente levantou a questão: como um grupo religioso tão fechado e radical teria, no meio de seus escritos, trechos inteiros de uma Bíblia que, supostamente, nunca fora considerada canônica pelos antigos judeus? Alguns, inclusive, estavam escritos em grego!
         A única explicação possível á a de que a versão bíblica dos Setenta, com os livros deuterocanônicos, que os judeus atuais rejeitam e os protestantes acusam de apóscrifos, eram sim considerados canônicos pelos judeus no tempo de Cristo. O único testemunho concreto que temos sobre os livros sagrados dos judeus no tempo de Jesus nos apontam sem, sombra de dúvida, que no tempo de Jesus, os livros deuterocanônicos, que a totalidade da versão dos Setenta, era sim usada e aceita pelos judeus como a Palavra de Deus.
         Que os judeus, pois, expliquem a si mesmos, de como permitiram que uma tradição tão espúria, aureolada por tantas historinhas banais, como a do Concílio de Jamnia, e reprimendas terríveis, como a do rabi Akiba, se imiscuíssem assim numa de suas mais legítimas e importantes tradições, e que, inclusive, eles não fizeram algo tão grave com a Palavra de Deus, só para confrontar os cristãos. Protestantes e russos agora sabem de onde vem o sopro mais forte do Espírito Santo.
         Pondo toda a sua fé em Cristo, e não em raciocínios humanos, por mais lógicos que parecessem, a igreja Católica consegue uma vitória espiritual insofismável, reforçando a sua credibilidade duas vezes milenar, e o seu papel como luz do mundo e de mais abalizada guardiã das tradições cristãs e hebreias.
         Assim seja!

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Pedaços de um dos rolos da biblioteca dos essênios, em Qumran, que continha a parte da Bíblia hebraica referente aos 12 profetas menores, escrito em grego. A seta aponta para o nome de Deus, escrito em caracteres paleo-hebreus,

         Eis uma relação dos livros cânon bíblico católico, com suas abreviaturas e uma letra, P ou D, indicando se tratar de protocanônico ou deuterocanônico:
         Pentateuco:
         Gênesis, Gn, P; Êxodo, Ex, P; Levítico, Lv, P; Números, Nm, P; Deuteronômio, Dt, P. Cinco livros.
          Livros Históricos:
         Josué, Js, P; Juízes, Jz, P; Rute, Rt, P; 1 Samuel, 1 Sm, P; 2 Samuel, 2 Sm, P; 1 Reis, 1 Rs, P; 1 Crônicas, 1 Cr, P; 2 Crônicas, 2 Cr, P; Esdras, Es, P; Neemias, Ne, P; Tobias, Tb, D; Judite, Jd, D; Ester, Est, P; 1 Macabeus, 1 Mc, D; 2 Macabeus, 2 Mc, D. Dezesseis livros.
         Livros Sapienciais:
         , Jó ou Job, P; Salmos, Sl, P; Provérbios, Pr, P; Eclesiates, Ecle, P; Cântico dos Cânticos, Ct, P; Sabedoria, Sb, D; Eclesiástico, Eclo, D. Sete livros.
         Livros Proféticos
         Isaías, Is, P; Jeremias, Jr, P; Lamentações, Lm, P; Baruc, Br, D;Ezequiel, Ez, P; Daniel, Dn, P; Oseias, Os, P; Joel, Jl, P; Amós, Am, P; Abdias, Ab, P; Jonas, Jn, P; Miqueias, Mi, P; Naum, Na, P; Habacuc, Hab, P; Sofonias, Sf, P; Ageu, Ag, P; Zacarias, Zc, P; Malaquias, Ml, P. Dezoito livros.
         Ao todo 46 livros do Primeiro Testamento.
         Evangelhos;
         Mateus, Mt; Marcos, Mc; Lucas, Lc; João, Jo. Quatro livros.
         Histórico:
         Atos dos Apóstolos, Ap. Um livro
         Epístolas (Cartas) de São Paulo:
         Romanos, Rm; Primeira aos Coríntios, 1 Cor; Segunda aos Coríntios, 2 Cor; Gálatas, Gl; Efésios, Ef; Filipenses, Fl; Colossenses, Cl; Primeira aos Tessalonisenses, 1 Ts; Segunda aos Tessalonisenses, 2 Ts; Primeira a Timóteo, 1 Tm; Segunda a Timóteo, 2 Tm; Tito, Tt; Filemon, Fm, Hebreus, Hb (hoje há uma quase certeza de que hebreus não foi escrita por Paulo, nem sob suas ordens, mas ela, por tradição e, principalmente, por comodidade, afinal não se sabe exatamente quem seria seu autor, continua figurando no rol das epístolas paulinas). Quatorze livros.
         Epístolas Católicas (Têm esse nome porque não são dirigidas a nenhuma pessoa ou comubnidade em especial, como acontece com as cartas de Paulo, e nesse caso são consideradas como que dirgidas a toda Igreja):
         Tiago, Tg; Primeira de Pedro, 1 Pd; Segunda de Pedro, 2 Pd; Primeira de João, 1 Jo; Segunda de João, 2 Jo; Terceira de João, 3 Jo; Judas, Jd. Sete livros.
         Apocalipse, Ap. Um livro.
         Ao todo 27 livros.


(trechos bíblicos transcritos da Bíblia de Jerusalém; Paulus)

domingo, 15 de março de 2015

CÂNON BÍBLICO – II

Prof Eduardo Simões


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         Durante o seu discurso na Última Ceia Jesus disse: “o Paráclito... que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos disse” (Jo 14,26) assim como: “quando vier o Espírito da Verdade, ele vos guiará na verdade plena” (Jo 16,13) – sem falar que João também lembra que nem tudo que Jesus disse ou fez ficou registrado por escrito (20,30) – deixando bem claro que ainda havia coisas novas a serem ensinadas, que a presença histórica de Cristo não esgotava todos os detalhes da revelação de Deus na história dos homens. Para evitar que o diabo, “mentiroso e pai da mentira” (Jo 8,44), se intrometesse entre Deus e o fiel isolado, deturpando tudo, Jesus prescreveu a mediação necessária da Igreja Católica, a única no Ocidente a manter a sucessão apostólica, dizendo: “quem vos ouve a mim ouve, e quem vos despreza a mim despreza” (Lc 10,16).

Cânon Bíblico Cristão

         Nascido e criado à sombra do Templo e da sinagoga, o cristianismo sempre se apresentou como um continuador, e ao mesmo tempo um aperfeiçoador, das tradições judaicas (Mt 5,17) – por aí se vê o absurdo e a confusão mental de quem é cristão e alimenta sentimentos antissemitas, embora nessa classificação se queira incluir, hoje, sem razão, até aqueles que divergem da política externa do estado israelense – por isso não é de admirar que os cristãos tenham dado muito valor, e investido muito na formação e preservação de seus escritos sagrados, assim como os islâmicos, todos devedores de antigas tradições hebraicas.
         Embalados pela euforia dos acontecimentos que envolveram a pessoa de Jesus de Nazaré, os cristãos acreditaram, a princípio, que a simples lembrança e transmissão oral daqueles acontecimentos maravilhosos bastariam, afinal o fim do mundo estava próximo – o Senhor não fora tão taxativo a esse respeito (Mt 16,28; 24,34; Mc 13,30; Lc 21,32)? – sem se preocuparem muito com a parte mais objetiva, mais burocrática, de uma fé organizada em uma igreja que, séculos depois, ainda estaria vivenciando a espera da volta do Senhor.
         As primeiras gerações de cristãos, porém, foram chamadas de volta à realidade pela consciência de que, boa parte do apocalipse pregado por Jesus, nos capítulos acima, se referia ao fim do Templo, em Jerusalém e ao nascimento de sua prórpia Igreja, detentora da plenitude do Espírito Santo, ficando o apocalipse do mundo para uma data distante e não sabida, enquanto nasciam e se difundiam no meio da comunidade fiel escritos preocupantes, que misturavam realidade e fantasia acerca do divino Mestre, os apócrifos, além de ensinamentos estranhos, chamados heresias, como a de Marcião, que rejeitava o Primeiro Testamento, e a do Montanismo, que adicionava novas revelações, inspiradas pessoalmente pelo Espírito Santo, sem falar de perseguições sangrentas e minuciosas do Império Romano, que ameaçavam fazer desaparecer a nova religião. Era preciso organizar o que já estava escrito, até por uma questão de sobrevivência.
         Logo de cara foi confirmado o uso já disseminado do Primeiro Testamento na versão dos Setenta, a Septuaginta, com a presença dos livros e passagens que seriam, depois, rejeitados pelos judeus, porque elas foram usadas por Jesus e os Apóstolos, e, sem dúvida, pelos judeus de seu tempo, afinal Jesus sempre foi um judeu exemplar – das cerca de 350 passagens do Prmeiro Testamento feitas nos Evangelhos, cerca de 300 são, com certeza, retiradas dos Setenta; e várias citam passagens de livros deuterocanônicos (1).
         Não havia dúvidas naquela época: a versão bíblica dos Setentas fazia parte da coleção canônica dos judeus, e nessa linha se punham as principais autridades e estudiosos da igreja dos séculos I e II, que fazem abundantes citações de trechos dessa versão, entre os quais nomeamos: a Didaquê (o primeiro catecismo da Igreja, atribuído aos apóstolos), São Clemente Romano, São Policarpo, Santo Inácio de Antioquia, o Pastor de Hermas (uma obra literária de espiritualidade do século II, que chegou a fazer parte, para alguns, dos livros sagrados do Segundo Testamento), São Justino, São Ireneu, Orígenes, Tertuliano, São Cipriano, São Hipólito Romano, etc. A unanimidade era completa.

As Primeiras Dúvidas e a Grande Recusa
         A partir do século III, começaram a surgir as primeiras dúvidas sobre a canonicidade dos deuterocanônicos, vindas principalmente de padres orientais, que em sua convivência mais íntima com elementos judeus, de quem bucavam auferir o maior conhecimento possível do Primeiro Testamento, parte essencial da doutrina cristã, acabaram assimilando a história de que os judeus palestinos nunca haviam admitido os livros deuterocanônicos como inspirados, quando muito os consideravam uma leitura edificante, recomendável pela sua mensagem de sabedoria humana e seu alto teor ético-moral, apenas. Seriam como os livros de autoajuda nos dias de hoje.
         Grandes nomes do cristianismo oriental começaram a questionar, sem, no entanto, deixar de citá-los frequentemente, aos livros deuterocanônicos, dando inclusive uma pista provável da perda de sua qualidade canônica: o espírito de confrontação entre judeus e cristãos; nesta linha se colocaram São Melitão de Sardes, Santo Atanásio, São Cirilo, São Epifânio, São Gregório Nazianzeno, Santo Hilário de Poitiers, etc. Cada um deles, num grau diverso, colocava suas dúvidas sobre esses livros.
         O grande golpe, da parte católica, contra os deuterocanônicos, veio justo de São Jerônimo, um intelectual de porte invejável, com uma erudição incomum, que foi convidado pelo Papa Dâmaso, para fazer a tradução para o latim dos textos bíblicos originais, e que, em 385, para melhor dar prosseguimento a essa missão, se dirige à Palestina, para ter acesso mais abundante e garantido com os originais, e para colher alguma ajuda de intelectuais judeus, mais familiarizados com esses textos. Não foi fácil, e inclusive um deles, o Rabi ben Anina só pode se encontar com Jerônimo à noite, por medo dos outros judeus.
         Dessa convivência tão íntima, quanto necessária, com os estudiosos judeus, nasceu em Jerônimo a certeza de que os deuterocanônicos não faziam parte do cânon original judeu original, acreditando piamente na tradição que se criou a respeito do “Concílio de Jamnia”, e em várias ocasiões advertiu a amigos, por meio de cartas, sobre essa característica dos deuterocanônicos, sem deixar de citá-los em inúmeros de seus trabalhos, aludindo sempre à opinião dos judeus. Na sua tradução, chamada Vulgata, ele coloca os deuterocanônicos, traduzidos à custa de muitos pedidos, em um anexo.
         A postura de Jerônimo, porém, não se justificava tão fácil. Os documentos em grego mais antigos, contendo a versão dos Setenta, como o Códice Sinaítico, o Códice Vaticano e o Códice Alexandrino, dos séculos IV e V, trazem os deuterocanônicos misturados com os outros, como se gozassem da mesma autoridade, e, gradualmente, essa questão foi se encerrando dentro da Igreja, graças à maioria esmagadora daqueles que, no Oriente e no Ocidente, defendiam sua canonicidade, o seu caráter de revelação divina, como São Basílio Magno, São Gregório Niceno, Santo Ambrósio, São João Crisóstomo, Santo Agostinho, São Leão Magno, Santo Isidoro de Servilha, etc. etc., assim como declarações solenes em diversos concílios como Hipona, em 393; Cartago III, 397; Cartago IV, 419; uma carta do Papa Inocêncio I, de 405.
         Além desses momentos, em várias outras ocasiões, a Igreja sempre se manteve fiel à sua proposta original de confiar irrestritamente em Jesus Cristo e nos Apóstolos, que não tratariam com menoscabo uma questão tão importante, na seriedade, e  assistência do Espírito Santo para aqueles que diligentemente traduziram os livros Sagrados,  continuando considerar os deuterocanônicos divinamente inspirados, como aparece nos catálogos de livros sagrados elaborados posteriormente como o Códice Claromontano, do séc. III e IV; o cânon Mommseniano, séc. IV; além dos Concílios de Florença, 1441, Trento, 1546, e Vaticano I, 1870, e Vaticano II.
         Para a Igreja Católica, oficialmente o que há são os livros canônicos, a Bíblia completa, divididos em dois tipos: os protocanônicos, mais antigos, escritos em hebraico, e que são aceitos pelos judeus, e os deuterocanônicos, escritos em grego, em épocas mais recentes, não aceitos pelos judeus, como que fazendo uma bela analogia com a parábola dos trabalhadores de última hora, que, apesar de terem chegado depois, ganham o mesmo salário e merecem o mesmo respeito que os mais antigos (Mt 20, 1-16). A formação do cânon do Segundo Testamento foi muito mais tranquila, e no final do século IV já estava completamente definida a coleção dos 27 livros que temos hoje.

         Tudo estava resolvido e em paz, pois até a Igreja Ortodoxa Grega, que se separara de Roma, em 1054, também aceitava os deuterocanônicos, mas no horizonte despontavam nuvens escuras, prenunciando uma grave tempestade, e uma grande reviravolta.

Nota
(1O leitor poderá uma relação exaustiva dessas passagens no seguinte endereço: http://minhateca.com.br/caspaz/Doutrina+Cat*c3*b3lica/Cita*c3*a7*c3*b5es+dos+Deuterocan*c3*b4nicos+no+Novo+Testamento,80177991.doc

(citações da Bíblia de Jerusalém, Paulus)

quinta-feira, 12 de março de 2015

CÂNON BÍBLICO - I

Prof Eduardo Simões


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Fonte: tundratabloid.com

         Durante o seu discurso na Última Ceia Jesus disse: “o Paráclito... que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos disse” (Jo 14,26) assim como: “quando vier o Espírito da Verdade, ele vos guiará na verdade plena” (Jo 16,13) – sem falar que João também lembra que nem tudo que Jesus disse ou fez ficou registrado por escrito (20,30) – deixando bem claro que ainda havia coisas novas a serem ensinadas, que a presença histórica de Cristo não esgotava todos os detalhes da revelação de Deus na história dos homens. Para evitar que o diabo, “mentiroso e pai da mentira” (Jo 8,44), se intrometesse entre Deus e o fiel isolado, deturpando tudo, Jesus prescreveu a mediação necessária da Igreja Católica, a única no Ocidente a manter a sucessão apostólica, dizendo: “quem vos ouve a mim ouve, e quem vos despreza a mim despreza” (Lc 10,16).

Cânon Bíblico Hebraico

         A palavra “cânon” é de origem grega e quer dizer “régua”, “medida”, mas de uma maneira mais especializada tem sido usada ao longo dos séculos para designar o conjunto de verdades ou revelações que aparecem como capitais, essenciais, às crenças de uma comunidade, que de certa forma estabelecem o limite do que seria aceitável ou não, em termos de doutrina religiosa e comportamentos, no seio de uma comunidade, além de outros sentidos possíveis – na liturgia romana, “cânon” é o nome técnico da Oração Eucarística, finalizada com uma aclamação trinitária: “Por Cristo, com Cristo, em Cristo, a Vós...”.
         Segundo a Wikipedia em inglês o uso do termo no sentido de coleção de livros divinamente inspirados, como a Bíblia, por exemplo, começou com os cristãos, embora a ideia venha dos judeus, e por isso começaremos analisando como se deu a formação do cânon hebraico, sua coleção de livros sagrados, ou Primeiro Testamento, que terá muitas repercussões na formação do seu similar cristão.
         Para começar é necessário dizer que não temos nenhuma informação segura sobre como se formou o cânon do Primeiro Testamento, e que critérios a comunidade hebraica, ou a sua elite religiosa, usava para definir que tal livro era sagrado ou não.  Pelo que lemos do Primeiro Testamento podemos deduzir que:
         a) Aparentemente toda noticia ou história socialmente relevante narrada por escribas, tanto ao palácio real como do templo, era considerada como sagrada. Tudo o que acontecia ao povo de Deus, tanto no âmbito profano como religioso, respeitando a moral do decálogo, era considerado como digna de veneração. Essa percepção é reforçada pela citação de vários textos, que hoje estão perdidos, para confirmar uma passagem bíbilica atual (1).
         b) Nem todos esses acontecimentos eram colocados por escrito imediatamente após o ocorrido. Às vezes o texto era fruto da compilação, e quem sabe até de reformulação, de antigas histórias presentes na memória do povo – esse fato, mais o conflito de interesses entre grupos, que normalmente ocorrem em uma sociedade humana, explicam certas passagens contraditórias no texto, como personagens que em alguns lugares são apresentados como fortes e virtuosos e noutras como fracos e titubeantes, como é o caso de Aarão, o irmão de Moisés, e mesmo as duplicatas, como as duas versões da criação do mundo, etc.
         Do que dissemos acima podemos deduzir que enquanto o povo judeu foi livre, ou teve a esperança de se tornar livre de quem o oprimia, o cânon do Primeiro Testamento esteve aberto, e toda contribuição a esse respeito era bem vinda, desde que servisse para sedimentar ou esclarecer antigas crenças do povo judeu.

A Versão dos Setenta

         Com o naufrágio político dos reinos do norte e do sul, e a chegada à Palestina das forças de grandes impérios, contra as quais os judeus não tinham a menor chance, a Palestina perdeu boa parte de sua população judia original, que se espalhou pela orla do Mediterrâneo, procurando manter-se fiel às tradições de seus antepassados, preservando, e porque não dizer aprimorando, a mensagem da sua religião. Entre essas comunidades destacou-se a estabelecida na cidade de Alexandria, no Egito, fugida do paganismo intolerante e sangrento dos Selêucidas, uma dinastia formada por um general de Alexandre da Macedônia, e que por anos lutou pelo domínio da Palestina.
         Na comunidade de Alexandria surgiu uma coleção de livros, fruto da necessidade de traduzir os textos existentes do hebraico para o grego, uma vez que a grande maioria dos judeus, principalmente os que viviam fora de Palestina, já não falava mais o hebraico, mas apenas o grego, que se tornara a língua comum da bacia do Mediterrâneo. Sobre essa tradução surgiu uma lenda que acabaria por dar o nome ao cânon: 72 sábios palestinenses – produto de 12 vezes 6, números muito significativos entre os judeus – a pedido do faraó grego do Egito, se fecharam em 72 aposentos isolados e produziram, ao final dos trabalhos, 72 traduções absolutamente iguais dos livros sagrados, de onde o seu nome “Setenta”, “Septuaginta” ou “LXX”! Isso teria ocorrido entre os anos 300 e 130 a.C.
         Mas houve um “problema” envolvendo essa tadução, pois ela não só traduziu os livros considerados sagrados pelos judeus da Palestina, como adicionou sete livros novos, e alguns episódios nos livros já aceitos como canônicos na Palestina. Mas tudo indicava que esses livros eram aceitos naturalmente como canônicos no tempo de Jesus, tanto que ele e os apóstolos citam vários trechos desses livros novos, chamados de deuterocanônicos pela Igreja (2).
         Com o advento do cristianismo, o judaísmo foi fortemente desafiado, uma vez que o rabi galileu e seus discípulos se apresentavam como o verdadeiro e mais perfeito Israel. Aquele disse: “não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas. Não vim revogá-los, mas dar-lhes pleno cumprimento” (Mt 5,17), e a este os chefes mandaram matar! Em Rm 9,1-13, o mais ardoroso dos apóstolos fará uma comparação entre o Israel “da carne” e o Israel “da fé”, profetizando a nítida preferência do Deus dos judeus em relação a esses últimos (9,25-26).

O Fechamento do Cânon
        
         O ápice da crise judaica no primeiro séculos da era cristã aconteceu durante os anos de 66-70, quando aconteceu a Primeira Guerra Romano-judaica.
         Após o assassinato de Jesus e o escorraçamento de seus principais discípulos, mais ou menos como se fizera com os samaritanos, uns 200 anos antes, o partido dos fariseus e zelotes, sentindo-se mais fortes, resolveram partir para a confrontação com o inimigo romano, e declarar a independência da Palestina judaica.
         O resultado dessa guerra, como sabemos, foi catastrófico para os judeus, mas muito benéfico para o critianismo que, solto das amarras do templo, partiu para a conquista do Império Romano e do mundo, obtendo retumbante sucesso onde os judeus historicamente fracassavam, por seu espírito excessivamente nacionalista que dificultava a universalização da sua fé. Massacrados pelos romanos e superados pelos cristãos, a elite judaica fechou-se ainda mais no seu exclusivismo, acirrando os traços nacionais do judaísmo, até como uma forma de sobreviver incólume, embora estagnado, no grande mundo para onde fora disperso. Há notícias de colônias judaicas da Crimeia, na Rússia, à Espanha, no extremo Ocidente de então. A comunidade está dispersa e sem o seu centro, o templo de Jerusalém, é preciso definir com urgência o cânon dos livros sagrados, a única coisa que lhes restara. E tal foi feito sem que saibamos exatamente como, tal o isolamento em que viviam. A isso se somava um ressentimento profundo, que os fez tratar o restante dos homens como “goim” (= povo não judeu), cuja pronúncia lembra o som do grunido de um porco.
         Desde cedo começou a se espalhar, entre os judeus, uma tradição dos primeiros séculos, de que lá por volta do ano 100, um grupo de rabinos, sob a influência do partido dos fariseus – o único que escapou da destruição romana – se reuniu na cidade de Jamnia, atual Yavne, em Israel, e lá decretou o fechamento oficial do cânon hebraico, excluindo os livros e as passagens extras encontradas na versão dos Setenta - essa historia também começou a fazer parte oficialmente das crenças de estudiosos e especialistas bíblicos, em 1871. Hoje em dia, porém, sabe-se que esse concílio não tratou desse assunto, mas apenas da canonicidade de algumas obras como o Cântico dos cânticos, Crônicas e Eclesiastes, levando-nos de volta à estaca zero, quanto ao evento e os atores que determinaram o fechamento do cânon hebraico na sua versão atual, de sorte que alguns autores chegam a afirmar que o principal critério de fechamento do cânon hebraico foi fazer oposição ao cânon aceito pelos cristãos.
         O cânon aceito pelos cristãos, ora na sua totalidade ora na esmagadora maioria, desde os primeiros tempos, foi a versão dos Setenta, e para combatê-la os tratadistas hebreus determinaram ao longo dos anos algumas condições para a aceitação de um livro como sagrado, diferenciando o seu cânon do cânon cristão. Essas condições foram as seguintes:
         a) O livro deveria originalmente ser escrito em hebraico ou aramaico, a língua falada pelo povo.
         b) O livro deveria ter sua canonicidade sancionada pelo uso do povo hebreu no ambiente da Palestina.
         c) O livro deve conter os grandes temas da religião judaica tradicional, na visão dos fariseus, principalmente os que se referem à eleição do povo hebreu e à aliança do Sinai.
         d) O livro deveria ter sido composto antes do tempo do profeta Esdras, mais ou menos 300 a.C., o que levantou grandes debates sobre as canonicidade de alguns livros como Ester, Jonas, Eclesiastes e Daniel, que fazem parte do cânon hebraico, mas foram escritos depois dessa data limite, quando tradicionalmente se dizia haver cessado toda profecia. O prórpio livro de Esdras foi escrito bem depois da existência desse personagem!
         Por conseguinte, os livros que a Igreja hoje chama de “deuterocanônicos” ficavam absolutamente de fora, partindo da suposição, não documentada é verdade, que o povo da Palestina não usava a versão dos Setenta, mas apenas o rabi “herético” e “subversivo” dos cristãos, e a sua “malta” de seguidores. O famoso rabi Akiba ben Iosef, um dos mais importantes personagens da tradição religiosa judaica, morto na guerra de 133-135, chegou a afirmar que quem lesse os deuterocanônicos não teria parte na vida eterna (ver o verbete “Developmente of the Hebrew Bible Canon”, na Wikipedia em inglês). O rigorismo desse critério fica claro quando inclusive partes de livros canônicos, como a conclusão de Mardoqueu em Est 10, o episódio dos jovens na fornalha ardente, a acusação de Suzana e o episódio do dragão, em Daniel, e a Carta de Jeremias, em Baruc, cujos originais foram escritos em grego.
                Outro elemento que igualmente nos mostra o caráter arbitrário e um tanto indefinido dessas decisões, é que o escritor judeu, Flavio Josefo, do século I, ligado à escola dos fariseus, dividia a Bíblia hebraica em 22 livros, juntando vários com um nome só – por exemplo, os doze profetas menores são contados como se fossem um livro apenas – de sorte a que seu número coincidisse com o número das letras do alfabeto hebraico. Outros, mais abertos à influência estrangeira, faziam a divisão do cânon em 24 livros, conforme o número de letras do alfabeto grego. Por aí se vê...
         Porém, apesar dessas restrições tão pesadas, os deuterocanônicos continuaram a ser usados e citados por vários estudiosos judeus até a idade Média, e mesmo sendo lidos em algumas festividaddes, até que esse “hábito” cessou por completo – o leitor que quiser se aprofundar mais nesse assunto, acesse o endereço (www.mercaba.org/FICHAS/Apologetica.org/historia_canon_03.htm).
         Os 24 livros do cânon hoje aceito por judeus, protestantes e ortodoxos russos são: Os Livros da Lei (a Torá), em número de 5; Os Profetas (Nevi’im) dividido em profetas anteriores: Josué, Juízes, Samuel (juntos) e Reis (juntos), e profetas posteriores: Isaías, Jeremias e Ezequiel, além dos doze profetas menores, todos juntos, num total de 8 livros; e os Escritos (Ketuvim) livros de sabedoria, entre os quaias se encontram o livro de Daniel e Crônicas, em número de 11.
         E tudo ficou em paz, até que houve uma grande reviravolta...

Notas
(1) Os livros citados como “canônicos” pelo Primeiro Testamento, mas que se perderam e dos quais não temos outra notícia são:
- Livro de Jasher, ou Livro do Justo, citado em 2 Samuel e em Josué.
- Livro das guerras de Iavé, citado em Números.
- Anais dos reis de Israel e Anais dos reis de Judá, citados em 1 Reis.
- Livro do profeta Semeias e Livro do vidente Ado, citados em 2 Crônicas.
- Estatutos da realeza (escrito por Samuel), citado por 1 Samuel.
- História de Salomão, citado por 1 Reis.
- Anais do rei Davi, citado por 1 Crônicas.
- Profecias de Aias de Silo, citado por 2 Crônicas.
- Atos de Jehu, citado por 2 Crônicas.
- A visão de Isaías, citado por 2 Crônicas
Etc. etc. – se o leitor quiser uma abordagem mais exaustiva sobre o assunto recomendo, com certa cautela, o verbete da Wikipedia em inglês “Non-canonical books referenced in the Bible”.
Algumas pessoas, mais afeitas à curiosidade que o recomendável, suspiram, em alguns sites da internet, o quão bom seria se esses livros fossem encontrados! Francamente, nós, os católicos, que temos a graça de receber a Palavra de Deus encarnada, Jesus Cristo, transmitida sem falhas pela sucessão apostólica, precisamos de alguma coisa a mais?

(2) Os livros deuterocanônicos são: Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Baruc, 1 e 2 Macabeus.

domingo, 8 de março de 2015

ASSUNÇÃO DE MARIA

Prof Eduardo Simões

               Ave!
               Durante o seu discurso na Última Ceia Jesus disse: “o Paráclito... que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos disse” (Jo 14,26) assim como: “quando vier o Espírito da Verdade, ele vos guiará na verdade plena” (Jo 16,13) – sem falar que João também lembra que nem tudo que Jesus disse ou fez ficou registrado por escrito (20,30) – deixando bem claro que ainda havia coisas novas a serem ensinadas, que a presença histórica de Cristo não esgotava todos os detalhes da revelação de Deus na história dos homens. Para evitar que o diabo, “mentiroso e pai da mentira” (Jo 8,44), se intrometesse entre Deus e o fiel isolado, deturpando tudo, Jesus prescreveu a mediação necessária da Igreja Católica, a única no Ocidente a manter a sucessão apostólica, dizendo: “quem vos ouve a mim ouve, e quem vos despreza a mim despreza” (Lc 10,16).

Embasamento Histórico
                A crença na Assunção começou muito cedo no cristianismo oriental, dominado pelo Império Bizantino, de sorte que lá pelo século IV já estava presente, na liturgia local, a festa da Assunção de Maria, ou seja, a elevação dela de corpo e alma para junto de Deus, antecipando a Ressurreição Universal, graças a um favor especial de seu filho, Jesus, sendo comemorada em 15 de agosto.
                Não dá para saber exatamente como e onde começou essa tradição – os relatos mais antigos que chegaram até nós são fantasiosos, cheios de detalhes ‘incríveis’, típicos da literatura apócrifa, mas que não impedem a existência de outros testemunhos, mais objetivos, que, infelizmente, não sobreviveram, além de uma característica muito sintomática: nunca houve culto, nem busca, por relíquias de Maria, desde os primeiros tempos da Igreja, e a crença tradicional no fato era forte o bastante para que o Imperador Maurício oficializasse, lá pelo ano 600, a solenidade da celebração da Assunção de Maria, o que a tornava obrigatória a toda igreja bizantina. No Ocidente essa postura encontrou mais resistência e a festa só foi incorporada à liturgia no século IX, pelo Papa Leão IV.
                Fora, e ao redor, das esferas oficiais, porém, a questão era alvo de calorosos debates, envolvendo, como defensores da crença, muita gente importante na história da Igreja Católica Ocidental e Oriental, doutores, bispos e santos de primeira linha como: Santo Efrém, São João Damasceno; São Germano, Patriarca de Jerusalém, São Modesto de Jerusalém, São Epifânio de Salamis, São Gregório de Tours, São Irineu de Lion, São João Crisóstomo, São Boaventura, Santo Antonio de Pádua, São Bernardo de Claraval, São Alberto Magno, São Tomaz Vilanova, São Tomaz de Aquino, São Bernardino de Sena, Santo Alonso de Orozco, São Roberto Belarmino, São Francisco de Sales, Santo Afonso Maria Ligorio, etc.
                Desses, um dos mais antigos, fervorosos e qualificados defensores da crença na Assunção foi João Damasceno, um dos mais ilustres doutores da Igreja, que deixou homilias muito inspiradas sobre o tema: “Convinha que aquela que no parto manteve ilibada virgindade conservasse o corpo incorrupto mesmo depois da morte. Convinha que aquela que trouxe no seio o Criador encarnado, habitasse entre os divinos tabernáculos. Convinha que morasse no tálamo celestial aquela que o Eterno Pai desposara. Convinha que aquela que viu o seu Filho na cruz, com o coração traspassado por uma espada de dor de que tinha sido imune no parto, contemplasse assentada à direita do Pai. Convinha que a Mãe de Deus possuísse o que era do Filho, e que fosse venerada por todas as criaturas como Mãe e Serva do mesmo Deus” (Sermão sobre a Assunção de Maria, séc. VIII, retirado da Constituição Apostólica Munificentissimus Deus, de Pio XII, no site do Vaticano). 
                Ao longo dos séculos firmou-se, no Oriente, uma sólida tradição a respeito do assunto, com a crença definida que Maria, primeiro morreu e foi depois ressuscitada, pela graça e o poder de Jesus e, em seguida assunta ao céu, tendo de fato assumido a morte, como o seu filho, reforçando o seu papel de co-redentora – alguns chegaram a assumir a versão de que Maria, de fato, não morrera, mas apenas caíra em um sono profundo, do qual foi desperta no céu, junto à Trindade, o que faz com que o episódio de sua passagem à outra vida seja também nomeado como “Dormição”, enquanto no Ocidente a questão era tratada de uma forma mais geral, sem se prender a detalhes.
                Entretanto a questão sobre um pronunciamento dogmático do Papa a esse respeito continuou empolgando aos católicos –  segundo a Wikipedia em francês, de 1854 a 1945 oito milhões de fieis, 1.332 bispos e 83.000 sacerdotes já havia escrito aos papas desse período pedindo uma definição oficial a esse respeito, ou seja, o reconhecimento oficial da assunção de Maria – até que, em 1º de novembro de 1950, após uma consulta a todos os bispos católicos, sobre o acerto e a conveniência de proclamar o dogma da Assunção de Maria, Pio XII fê-lo solenemente na bula Munificentissimus Deus, confirmando a crença na Assunção de Maria aos céus, ao coração da Santíssima Trindade. Dos bispos consultados, quase dois mil, 90% foram a favor da proclamação imediata do dogma, enquanto 10% levantaram obstáculos acerca do momento, que eles ainda não viam como propício. Uma unanimidade impressionante! A crença na Assunção de Maria torna-se, então, um elemento fundamental da identidade católica, e o católico que não conseguir crer nisso e repercutir essa crença corre o risco de se ajuntar aos menores no Reino de Deus.
                Erram, pois, aqueles que seguem acriticamente fontes informativas de massa, como a Wikipedia em inglês, por exemplo, que em seu verbete Assumption of Mary, cujo autor pinça sorrateiramente uma declaração solta do historiador católico irlandês Eamon Duffi, “não há, em absoluto, qualquer evidência histórica sobre esse assunto”, e prossegue audaciosamente que “entretanto a Igreja Católica nunca negou ou afirmou que esse ensinamento é baseado em contos apócrifos. Os documentos da igreja silenciam sobre esse assunto, preferindo se basear em outras fontes para fundamentar sua doutrina”. Sobre isso podemos contra-argumentar:
                a) Que seria uma evidência histórica nesse caso: uma testemunha ocular, uma fotografia? Não há testemunha ocular ou fotografia nem para a ressurreição de Cristo, de onde alguns afirmarem, hoje, que Cristo apenas sofreu um colapso natural na cruz, e depois acordou, ou, como fizeram os chefes judeus do seu tempo, que o seu corpo foi roubado pelos discípulos (Mt 28,11-15).
                b) Erra por anacronismo e ignorância quem ainda afirma que “apócrifo” é o mesmo que “falso”. Apócrifo é sinônimo de “não revelado”, ou “não digno de pertencer ao conjunto da revelação”, sem se afirmar qualquer coisa sobre a veracidade do seu conteúdo. Certamente que há “mentiras”, distorções doutrinais e muito voo da imaginação nos livros apócrifos, em quantidade e qualidade diferentes, conforme a obra, mas também há muitas afirmações verdadeiras, como, por exemplo, a existência histórica de Jesus e de muitos personagens bíblicos. Os apócrifos são o que chamamos hoje “romance histórico”. O seu conteúdo não pode ser chamado de “história”, no sentido científico do termo, mas há muita informação neles que fazem parte da história verdadeira, científica, e que não podem ser negadas apenas por serem incluídas na trama desses romances.
                Por fim podemos dizer que a Igreja não faz uso de fontes apócrifas na defesa do dogma da Assunção, simplesmente por não precisar delas.
                Aos protestante-evangélicos que não creem e criticam esse dogma, resta-nos um questionamento: se o Espírito Santo sempre assiste a quem busca com sinceridade o sentido da revelação nas Sagradas Escrituras, o que tem justificado não só a livre interpretação da Bíblia, como a separação de Roma e a criação de uma infinidade de igrejas, descumprindo frontalmente um desígnio explícito de Deus (Jo 17,20-23), como é possível dizer que o Espírito Santo não assistiu a tanta gente tão qualificada, com tantos anos dedicados à sua Igreja, amparados por séculos de orações, estudos, e debates? Só se o Espírito Santo tiver uma prevenção muito grande contra a Igreja Católica, mas creio que será difícil encontrar tal citação nas escrituras!

Embasamento bíblico-teológico
                E certo que a Bíblia não cita explicitamente a assunção de Maria ao “céu”, mas também não cita os sacramentos, que várias igrejas protestantes mais antigas, criadoras e defensoras do princípio da exclusividade bíblica, aceitam; sem falar que, pelo que vimos no primeiro parágrafo deste artigo, isso não é problema, sequer pode ser dogma de fé. Mas decerto que, para nós católicos, a Bíblia é a principal fonte de fé e revelação, e foi dela que os sacerdotes, bispos e papas se basearam para solicitar, decretar e sustentar até hoje o dogma da Assunção.
                Em primeiro lugar temos a promessa feita por Deus à mulher, quando da ‘mancada’ no Paraíso, de que será ela quem conduzirá a luta contra a serpente, “porei hostilidade entre ti e a mulher”, e lhe “esmagará a cabeça” (Gn 3,13), e não o homem. Logo não é de admirar que a uma mulher, e que mulher!, seja dado um privilégio que não é estranho à Bíblia, pois já no Primeiro Testamento há o relato da assunção de Henoc (Gn 5,24) e de Elias (2Rs 2,11). Henoc e Elias eram homens santos, mas nem de longe mereceram o privilégio de Maria de gestar Deus na carne, sinal concreto de uma graça e uma fé ainda não igualadas por ninguém.
                Alguns indícios também foram deixados em algumas outras passagens, como no Salmo 16,10: “não abandonarás minha vida no Xeol, nem deixarás que teu fiel veja a cova” – aqui se fala do “amigo”, e não do Filho, logo não se refere a Jesus, e quem foi amigo mais íntimo de Deus que Maria? – ou o Salmo 132, 8 , que relata a transladação da Arca da Aliança de seu abrigo precário para o Templo em Jerusalém, e em determinado ponto diz: “levanta-te, Iahweh, para o teu repouso, tu e a arca da tua força”. Ora, é tradição antiquíssima evocar Maria como a “Arca de Aliança”, a mais sublime e espetacular arca possível, e por aí se vê como é inadequado e esdrúxulo algumas comunidades católicas reconstruírem fisicamente a Arca da Aliança dos judeus, e com elas saírem em procissão, com um ostensório encima. Isso é um empobrecimento do cristianismo e um desrespeito aos judeus. Maria, como a Arca da Aliança do Segundo Testamento, o grande sinal da Encarnação, deve estar onde Deus está, como é dito no Salmo 44, 11-18.
                O Cântico dos Cânticos, também faz alusão a uma mulher muito especial que “desponta como a aurora, bela como a lua, fulgurante como o sol, terrível como esquadrão com bandeiras desfraldadas” (Ct 6,10). João teve essa mesma visão no Apocalipse, onde a descreve como “um sinal grandioso”, em 12,1, que os versículos seguintes, 2-6, indicam claramente que se trata de Maria, dando a entender, inclusive que ela foi posta num lugar, imune ao mal e à morte, representados pelo dragão – versículos 13-16 – embora essa mulher também possa representar a Igreja, da qual Maria é a figura perfeita. Aonde, porém, nesse mundo se pode estar absolutamente imune ao mal e à morte, sem falar que o sinal aparece no céu, e não emergindo da Terra.
                A Assunção de Maria é um corolário necessário do dogma da Imaculada Conceição, devendo pois, logicamente que, aquela que nasceu sem pecado, e da qual não se narra nenhum pecado ou deslize no texto bíblico, não experimentasse a corrupção corporal, quiçá a morte, como no Salmo 16 acima citado. Ela faz parte do conjunto de promessas e profecias que Deus de antemão fez, e que nos revelou nos Livros Sagrados, como quando em Isaías 60,13 ele afirma que glorificará o lugar de seus pés, falando metaforicamente em relação ao Templo. Quanto mais glória não merecerá o templo tocado por seus pés de verdade, o útero de Maria? Outras citações que a esse respeito poderíamos aduzir são: Sl 44,18 (os povos te louvarão eternamente), Jt 14,7 (bendita sejas tu em todas as tendas de Judá e entre todos os povos), que penas que os irmãos na fé, seguindo judaísmo, excluíram esse livro!, em Lc 1,28 (ave cheia de graça), 1,42 (bendita és tu entre as mulheres) e ainda 1,48 (doravante todas as gerações me chamarão de bem-aventurada).
                Quem ousará criticar os católicos por acreditar e aprimorar, para a Salvação da humanidade, profecias tão maravilhosas, feitas à Maria e a nós, da parte de Deus?
                     Amém!


As citações bíblicas foram retiradas da Bíblia de Jerusalém, da editora Paulus, que recomendamos aos que querem um texto mais fiel ao original.