Crônicas

sábado, 25 de abril de 2015

PECADO HISTÓRICO

Prof Eduardo Simões

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Momento em que a senhora 'evangélica' atacava a imagem da igreja. Em total desatino ela gritava: "Reage!", como fez o bispo Von Helder, da Universal, com a imagem de Nossa Senhora Aparecida, na TV, anos atrás. Quem, entre os católicos, um dia acreditou que isso tivesse vida própria? É por isso que nós as chamamos de "imagens". Esperamos que tais ensinamentos sejam frutos só da ignorância, pois seria muita má fé!

         Sobrecarregada pela doença mental, pela ignorância e por maus conselhos, uma pobre senhora ‘evangélica’, pega uma enxada, e se dirige até a igreja de Nossa Senhora da Piedade, e começa a destruir, sem piedade, a imagem de uma enorme pietá, que há do lado de fora desse templo católico, no centro de Belo Horizonte.
Há menos de um ano, também em Minas Gerais, um rapaz invadiu uma igreja e começou a destruir várias imagens, inclusive uma, a de Nossa Senhora do Patrocínio do Santíssimo Sacramento, tombada pelo patrimônio histórico. Após cometer o crime, o rapaz foi se abrigar em um templo da Igreja Universal. Preso mais tarde, confessou que fazia parte da Força Jovem da Universal. Nos dois casos alegou-se doença mental, o que pode acontecer, mas quando o sintoma de uma doença tão pessoal começa a se generalizar (há notícias de vários outros ataques a igrejas e a centros de umbanda e espíritas, pelo Brasil), começamos a desconfiar do caráter privado desses eventos.
Nos dois casos, o pretexto para o crime foi obedecer às ordens de ‘Deus’, emanadas literalmente da Bíblia, que ordena a destruição de ídolos e qualquer representação de coisas naturais, como está prescrito em Ex 20,4; Dt 5,8; Is 44,9-20, etc. Isso levanta de cara uma questão: por que essa gente, tão zelosa com a Palavra de Deus, não a cumpre de maneira mais completa e honesta, atacando os monumentos públicos, estátuas e imagens muito mais evidentes, que povoam as praças do nosso país? Em São Paulo, por exemplo, eles poderiam fazer uma campanha para explodir o enorme e chamativo monumento às bandeiras, de Vitor Brecheret, além de quadros históricos e estátuas em museus, teatros, etc. O Estado Islâmico pode não estar tão longe.
Essa pobre gente está sendo muito mal orientada, mas o pior é saber que até pouco tempo atrás boa parte dela era católica, e que eu mesmo nasci em um país quase 100% católico. Como é que as coisas chegaram a esse ponto? Ao invés, o de vermos crescer um protestantismo histórico, respeitoso, teologicamente bem embasado e aberto ao diálogo, o que vemos são seitas que, não raro, descambam para um anticatolicismo, como se houvesse uma grande mágoa abafada ou uma profunda ignorância da religião, que durante quase 500 anos reinou absoluta em nosso país, e ajudou-o a construir como que à sua imagem e semelhança? Nós os católicos precisamos meditar muito sobre a nossa participação nisso tudo.
Outro desafio que nos cabe é de questionar se essa violência vai parar nas imagens ou vai avançar até os que as veneram, e que jamais as adoraram. Não seria a primeira vez na história que um grupo fanático, começaria por destruir os símbolos de um grupo social, para depois tentar destruir fisicamente os membros desse grupo. Eles pararão nas imagens ou avançarão ainda na direção de realidades mais elevadas aos católicos, mas por eles desprezadas, como as Sagradas Espécies da Eucaristia?
Por isso, não podemos deixar de defender o estado laico, religiosamente não comprometido, que proteja todas as nossas diversidades e possa, em caso de litigio social, agir como um mediador sóbrio e imparcial. Qualquer tentativa de instrumentalizar o estado a favor de uma religião é um desatino, a não ser que se institua a proibição de mudar de religião, como em alguns países islâmicos. Querer levar para dentro do Parlamento as disputas religiosas, como pregam, inclusive, alguns grupos católicos, é um erro, erro ao qual se filiam várias seitas evangélicas, com um prejuízo tremendo para o cristianismo, e alegria dos ateus e não cristãos, que podem citar o caso de “bispos”, “bispas”, “apóstolos”, envolvidos em rumorosos escândalos financeiros. Os cristãos engajados devem ir para o Parlamento para lutar pelos interesses gerais da sua comunidade, a partir uma ótica republicana e democrática, independente da sua orientação religiosa e a de seus eleitores. Querer se candidatar só para impedir que um determinado feriado religioso seja retirado do calendário não é razoável, não contribuamos para o caos geral.
Não esqueçamos também de denunciar às autoridades constituídas o crime de destruição de patrimônio perpetrado por esses fanáticos, para que eles paguem, na forma da lei, pelos danos físicos causados (Rm 13,1-7; Pd 2,13-17; Tt 3,1). Não se trata de esquecer o mandamento maior do perdão, mas de antes dar uma lição de civilidade e civilização para os demais membros da comunidade. O perdão vem do fato de em hipótese nenhuma revidarmos na mesma moeda. Quem vive ligado ao Antigo Testamento e a Lei do Talião não são os católicos. A nós interessa mais os Evangelhos e o Segundo Testamento.
Tampouco devemos reagir fisicamente ao vermos alguém destruindo imagens na nossa igreja, diante de nós, para evitarmos que nós, ou o agressor, se machuque, aumentando a gravidade do gesto criminoso. Se der para segurar, sem machucar ninguém, certo, mas se o criminoso for jovem e forte, é melhor chamar a polícia, ou quando muito seguir o autor, para ver aonde vai se ocultar, e não se angustiar com a perda da imagem; pelo contrário, a comunidade deve se juntar, se cotizar, e fazer uma maior e mais bonita ainda. Esses fatos são Deus querendo ver até onde vai a nossa independência em relação aos bens financeiros. Os católicos brasileiros precisam contribuir mais com a sua Igreja.
Não devemos, ainda, esquecer que, apesar das profundas e intransponíveis diferenças religiosas que temos com umbandistas e espíritas, devemos nos solidarizar com eles, e com os membros de qualquer outra religião, sempre que estas forem vítimas de alguma violência, venha da parte desses ou de outros, pois a caridade, a esmola da solidariedade, enfraquece o ódio, o fanatismo, e apaga uma multidão de pecados (Eclo 3,30;7,32-36; Tb12,9; 1Pd4,8; Dt 15,7-11) .
E isso é que é ser evangélico!

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Foto de um centro de umbanda depredado por quatro jovens atletas 'evangélicos'. Por pouco não houve agressão aos fieis do centro, alguns idosos, que estavam lá na hora do crime.

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